Na avenida dos Trabalhadores, foi inaugurado há uma semana um empreendimento inusitado, mas necessário: o “Buteco dos Cornos”. É em um sobrado amarelo na esquina que o local promete consolar os corações partidos e afagar as dores de cabeça. Se você não sabia dessa informação, cuidado: o corno é sempre o último a saber.
Em uma rápida busca na internet, nota-se que “Bar dos Cornos” ou “Boteco dos Cornos” são estabelecimentos que existem em diversos estados, como São Paulo. O brasiliense Leury Santana é morador do bairro Pedregal desde criança e sentiu que os traídos da Capital do agronegócio deveriam ter um lugar para chamar de seu e encontrar com seus iguais.
Com apenas 22 anos, Leury coleciona sua própria história de adultério e tem propriedade para abrir um comércio com esse nome. “Todo mundo tem uma (história), né? Quem não tem uma pra contar?”.
Antes de abrir a porteira do rebanho, o jovem organizava bailes funks há 8 anos. Ao ouvir as dores dos amigos, compreendeu que é uma ironia querer viver um amor no século da “sacanagem”. “Eu tenho bastante amizade com a ‘gurizada’, entendeu? E nós estamos em um século meio complicado. São muitas histórias de cornos por aí rodando. Uns colegas meus que casaram com a mulherada, construíram casas e tomaram chifre ou a mulher socou o pé na bunda deles”, relata.
Ele até compartilha uma das histórias de um colega: “O homem levou um amigo para beber na casa dele. Chegou lá, foi comprar cerveja com a moto do cara, quando voltou, a mulher estava dentro de casa com outro”.
Leury então criou um grupo no aplicativo WhatsApp, chamado “Tribunal dos Cornos”. Segundo ele, o grupo reúne mais de 100 membros. Foi lá que apareceu a sugestão de se criar um bar para juntar o gado todo, uma vez que um animal sem chifres é um animal indefeso. “Nos funks, todo mundo fica chorando por causa de mulher, então vamos logo com esse negócio de Boteco dos Cornos. Faltava um lugar, só que ninguém tinha coragem de por esse nome”, comenta.
Com apoio da mãe, Suzana Coelho, o negócio familiar foi aberto. Mesmo que nas redes sociais os seguidores ainda são tímidos – afinal, os cornos preferem não aparecer – o boteco atraiu uma vasta clientela, com homens, mulheres, jovens e mais velhos. “Ontem mesmo já saiu um contemplado daqui, outro chorando por causa de mulher…”. No entanto, ele afirma que o ambiente na maioria das vezes é de muita descontração. “Triste? Ficam até gravando áudio para mandar para a mulher, para mandar para o homem”.
Quem não tem um par de chifres, sem problemas: o bar conta com um painel para fotos e outros chifres, diretamente do Distrito de Mimoso, em Santo Antônio de Leverger (34 km ao sul de Cuiabá), pendurados na parede para todos os tamanhos. “Tive que decorar para que se sentissem no seu ambiente”.
Recém-inaugurado, Leury e Suzana estão testando ainda os horários e a porteira do boteco fica aberta a semana toda. “Estamos abrindo às 19h e ficamos até o último corno ir embora”, informa Suzana. Em breve, mãe e filho irão criar uma “carteirinha oficial para cornos”. O Buteco dos Cornos conta dias especiais para se ouvir sertanejo, funk, pagode e samba, além de música ao vivo e DJ. O local oferece tudo que um bar e um corno precisa, como cerveja, energético, uísque e narguilé.
Questionado se apenas traídos podem frequentar o bar, Leury dispara: “Todo mundo pode entrar, mas me fala uma pessoa que não é corno aí?”.