Foto: Reprodução
Fonte: Muvuca Popular
“Eu ouvi os gritos e soube que cada segundo podia decidir uma vida.”
Foi assim que o capitão do Corpo de Bombeiros Militar, Luiz Antônio Amaral de Souza, descreveu ao site Muvuca Popular o momento em que deixou o almoço em família e correu, sem farda e sem equipamentos, para enfrentar um incêndio residencial no Condomínio Rio Claro, no dia 20 de dezembro de 2025.
Morador do condomínio e bombeiro militar desde 1998, Amaral, conhecido na corporação como Capitão BM Amaral, vivia um raro momento de descanso ao lado de 21 familiares, reunidos para receber a irmã que chegara de outro estado. Por volta das 14h30, o clima de confraternização foi abruptamente interrompido. Antes mesmo de se deitar para descansar, ouviu o irmão bater à porta com um alerta urgente: uma casa do condomínio estava em chamas.
Sem hesitar, saiu correndo do jeito que estava, de bermuda e camiseta regata. A experiência de quase três décadas na corporação falava mais alto. Ele sabia que, em incêndios residenciais, o fogo se espalha rapidamente, e que o maior risco não é o patrimônio, mas a vida.
Ao chegar em frente ao imóvel, o cenário era crítico. A porta da sala e as janelas dos quartos já estavam completamente tomadas pelas chamas. Um detalhe aumentou ainda mais a tensão: havia um carro na garagem, indicando a possível presença de moradores no interior da residência. Amaral sabia que ali vivia um casal com uma filha. A prioridade, desde o primeiro instante, foi clara: localizar e salvar possíveis vítimas.
Sem equipamentos de proteção e ciente de que combater o fogo seria inviável naquela condição, decidiu acessar os fundos da casa, passando pelo imóvel vizinho, localizado na esquina. Subiu no muro e, ao alcançar o telhado, ouviu gritos de socorro vindos de dentro da residência. O momento, segundo ele, foi de extrema tensão.
Ao se aproximar, encontrou uma mulher presa, Gabrielle Ricci, cercada por fumaça densa, quente e escura, com a temperatura elevadíssima. A primeira pergunta foi direta: havia mais alguém na casa? Ao ouvir que ela estava sozinha, sentiu um alívio momentâneo, mas o perigo permanecia iminente.
Mesmo sentindo o calor intenso ao apoiar o pé e a mão sobre o muro, estendeu os braços para puxá-la. Ao tocar a estrutura aquecida, a vítima sentiu dor intensa e acabou se soltando. Em poucos segundos, Amaral improvisou: rasgou um pedaço da lona de um toldo próximo e criou uma proteção sobre o muro. Com isso, conseguiu puxá-la pelos braços, primeiro para o topo do muro e, em seguida, para o telhado da casa dos fundos, em um nível mais baixo.
A mulher estava em estado de choque, emocionalmente abalada e vestia apenas roupas íntimas. Amaral tirou a própria camiseta e a entregou para que ela pudesse se cobrir. Em meio ao caos, procurou confortá-la com palavras simples e firmes: o mais importante era estar viva, bens materiais podem ser reconstruídos.
Segurando suas mãos com cuidado, conduziu a vítima pelo telhado até o ponto de descida, contando com a ajuda de um morador para colocá-la em segurança no solo. Logo após o resgate, acionou o CIOSP e o SAMU, repassando informações sobre o incêndio e o estado da vítima, que havia inalado muita fumaça e apresentava queimaduras.
Minutos depois, equipes do SAMU e do Corpo de Bombeiros chegaram ao local, prestaram atendimento médico, controlaram as chamas e realizaram o rescaldo, evitando que o fogo se alastrasse para outras residências do condomínio.
Para o capitão Amaral, o episódio deixa uma lição fundamental à população: em situações de incêndio, cada segundo conta. A orientação é clara: não tente apagar o fogo, saia imediatamente, desligue o padrão de energia se possível e acione o Corpo de Bombeiros.
“Graças a Deus, foi possível salvar uma vida”, resume. Um gesto que, mesmo fora do serviço, traduziu na prática o lema que carrega desde 1998: “Vidas alheias e riquezas salvar, mesmo com o risco da própria vida.”
Emocionada, Grabrielle contou que estava dormindo quando acordou assustada e já se deparou com o fogo se espalhando pela sala e uma fumaça intensa que rapidamente tomou todos os cômodos e bloqueou qualquer tentativa de fuga. Desorientada, sem conseguir pedir ajuda e com o rosto ardendo pelo calor, Gabrielle buscou refúgio nos fundos da residência, onde se manteve dentro de uma hidromassagem com pouca água, tentando se proteger da fumaça. Quando já não tinha forças para gritar, ela lembra que ouviu uma voz vinda do telhado. Este foi o início do resgate que salvaria sua vida.
“Fiquei ali encostada, abaixada, quieta, porque eu já não conseguia mais gritar e não tinha resposta de ninguém. Pensei: ‘vou morrer’. E aí, do nada, eu, agachada, tentando respirar, ouvi uma voz, uma voz vindo de cima. Quando olhei para cima, vi um homem em cima do meu telhado. Naquele momento, deu aquela clareada. Então ele disse: ‘vou te ajudar. Tem mais gente na casa? Vamos embora’”, lembra.
Para ela, este Natal tem um significado muito maior: a certeza de que a coragem e a solidariedade de um vizinho salvaram sua vida. “Ele subiu rapidão; o muro, o telhado e ele me tirou. Estou viva, sem nenhum ferimento grave, graças a ele. Eu nem sei o que dizer. Não existem palavras. ‘Obrigado’ é pouco. Ele me salvou”, concluiu Gabrielle.



















